Plataformas virtuais apostam na interação com leitores para difundir o alcance de novos livros

A saída para tornar os livros de autores estreantes mais duradouros parece estar calcada mais no processo de escrita do que no produto final. É o que reflete a aposta de projetos como o Widbook e o Motor, sendo este desenvolvido pela editora Ímã e prestes a ser reinaugurado a partir da próxima semana. O brasileiro Joseph Begeiro, um dos fundadores do Widbook, explica que essa percepção norteou a criação do site.
“Quando criamos o Widbook, nós imaginamos que ali o usuário poderia iniciar a vida de escritor dentro da plataforma. Se ele apenas chegasse e colocasse ali o seu livro já pronto, nós talvez estaríamos criando um grande cemitério. Ainda que o caminho inicial seja mais árido e difícil, nós percebemos que o passo a passo, permeado pelas possibilidades de interação que permitem as redes sociais, aproxima as pessoas. É o aprimoramento desse caráter social que mais nos interessa neste momento”, observa Joseph Begeiro.
Ele ressalta entre as experiências desenvolvidas, a parceria entre o Widbook e a editora Rocco, que entre maio e junho deste ano resultou numa espécie de reality show em que os usuários da plataforma podiam acompanhar a escrita do livro “Minha Vida Cor-de-rosa #SQN”, de Vinicius Campos. Apresentador do canal Disney Channel, o brasileiro conta que ele propôs o desafio de escrever 30 mil palavras no período de um mês. Aos poucos, ele percebeu que só dava conta de escrever 1.200 em uma hora, o que exigiu disciplina e dedicação para dar conta do objetivo. “Isso me obrigou a agilizar o processo, escrevendo com um cronograma muito claro em mãos. Essa versão que foi ao ar, eu entendo como uma primeira versão de um manuscrito que na etapa seguinte eu pude trabalhar melhor, com mais calma”, afirma Campos, que vive em Buenos Aires há nove anos.
Contato. De acordo com ele, o mais interessante desse processo foi o contato com os leitores que faziam comentários e acompanhavam essa produção como se estivessem diante de uma novela. “Cada capítulo desenvolvido ali gerava expectativas. Alguns, às vezes, tentavam adivinhar o que iria acontecer com os personagens e isso me estimulou também a conceber uma trama menos óbvia. Ali eu ia percebendo a empatia que as pessoas desenvolviam com algumas personagens”, conta Campos.
De acordo com ele, seu título deve sair em breve apenas em e-book. “Mas dependendo da repercussão e do interesse do público, é possível que uma versão em papel também seja criada e chegue às livrarias”, afirma o autor.
Criador da editora Ímã, Julio Silveira ressalta que a Motor, serviço repaginado agora depois de estrear em 2012, traz também a ideia de se sustentar no crivo dos leitores. A proposta, de acordo com ele, é levar ao site um volume de quatro ou cinco títulos, de áreas diversas, desde ficção ao design, para serem financiados via o sistema de doações permitidos pelo crowdfunding. Assim, quem vai determinar a produção de algumas obras é o público.
“Acho que o mais importante no presente é estar atento a esse engajamento da comunidade de leitores. Ao meu ver, o que há de mais inteligente no universo da autopublicação é o que venho chamando de edição social. Nesse processo, o texto está aberto para as pessoas lerem e até comentarem, expressando suas opiniões. Além disso, eles podem decidir se a obra vale ou não receber uma doação para que determinada história ou projeto seja publicado”, explica Julio Silveira.
Uma das vantagens desse procedimento, para ele, é a maneira como facilita a circulação desses produtos. “A edição social é muito interessante porque contribui para a viabilização financeira dos livros, mas também de alguma forma resolve parte de um problema que é o acesso ao que os autores escrevem. Se eles já têm um interlocutor e um público acolhedor do que faz, boa parte do caminho quando o produto for lançado terá sido percorrido”, diz.
 
Publicado originalmente no Jornal O Tempo

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