Antes de ser palavra um risco é nada, um traço, um esbarrão, mas ali está a faísca de tudo, de algo que surgiu de repente.
Esta palavra é tão forte que ganhou até forma e significado de verbo, arriscar, algo que envolve perigo, desafio e conquista.
Por isso um escritor deve sempre arriscar ao escrever. De uma forma ou de outra ele precisa encarar seus fantasmas e medos e tentar colocar tudo no papel. Mesmo que se queime ou que não entenda totalmente a chama ou o fogo.
Porque há momentos na vida em que é preciso arriscar, mesmo com erros, mesmo que a gente se exceda ou se repita.
Somente neste trato constante e íntimo com as palavras é que alguém pode descobrir sua verdadeira voz, seu estilo, seu traço, sua veia principal.
Estamos falando de um risco além do racional, do técnico. É algo mais visceral, sanguíneo.
Nessa luta de palavras e significados, estaremos mexendo com o fogo, calor, dor, sensações, emoções fortes.
É a essência da vida na ignição das ideias, sentimentos e memórias. Com tudo que se movimenta e forma percepções dentro de nossa própria mente e consciência.
De alguma forma precisamos tentar soltar isso, buscar lá dentro, mesmo que não pareça muito visível, mesmo que dolorido ou oculto.
Porque quem não tentar e errar não vai ter algo para se debruçar e garimpar.
Toda joia nasce sempre da forma bruta. É preciso encontrar a mina, escavar e lapidar.
O escritor que não arrisca, não anda, não evolui, não produz.
As melhores palavras poderão ficar muito tempo esperando sua iniciativa. Do que você ainda não escreveu, no que não enfrentou ou viveu.
Mais que o resultado, importa a tentativa, o mergulho.
Para ser escritor, é preciso esquecer tudo que se pensa que sabe, e nunca ficar parado numa zona de conforto.
Quanto maior o risco, mais surpreendente poderá ser o ganho.
Publicado originalmente no blog do Roberto Tostes