Pegadinha publique seu livro de graça

Só para ilustrar o tema deste texto vou contar uma historinha que ouvi muitas vezes do meu avô quando eu era criança.

Ele contava que um dia o paciente chegou no consultório do dentista e perguntou:

— Doutor, quanto custa uma extração de dente?
E o dentista respondeu:
— Sem dor é de graça e com dor é R$ 100,00.
— Então eu quero sem dor — diz o paciente, quase sem acreditar.
Quando o dentista começa a mexer no dente, o paciente pergunta já resmungando:
— O doutor não vai aplicar anestesia?
— Não… — diz o dentista enquanto o paciente começa a se mexer na cadeira e gritar enquanto o dentista adverte novamente — Não grita, porque com dor é R$ 100,00!

A estratégia escondida na publicação “gratuita” de livros é bem parecida com a historinha acima. Os clientes autores chegam encantados com slogans e convites tentadores do tipo PUBLIQUE SEU LIVRO DE GRAÇA! e só depois percebem que o “de graça” é apenas um pequeno estágio dentre todas as outras etapas necessárias que envolvem a publicação ou autopublicação de livros.

Autopublicação no Brasil

A autopublicação é uma tendência que chegou para ficar e ainda vai crescer muito, é verdade! Só nos últimos cinco anos a quantidade de autores que se autopublicaram no Brasil mais do que triplicou e hoje já responde por algo em torno dos 35% do mercado editorial nacional.

Nos EUA, a indústria da autopublicação já alcançou um volume de negócios perto da casa dos 50 bilhões de dólares por ano, valor duas vezes maior que o da indústria tradicional de publicações de livros, de acordo com o relatório da empresa de tecnologia de mídia New Publisher House.

O relatório também revelou que o número de aspirantes a autopublicação que terminaram suas obras é mais de cem vezes o número de autores já publicados de forma tradicional.

Cuidado com as pegadinhas

De olho neste mercado promissor, surgem empresas e editoras que se propõem a publicar “de graça”, mas, quais são as armadilhas deste modelo de autopublicação e como os autores novatos podem se antecipar ou contornar as “dores de dentes”?

Existem alguns itens na fantástica promessa de publicar um livro de graça que você precisa evitar ou avaliar com muita atenção antes de assinar contrato.

Em primeiro lugar, é muito tentadora (e proporcionalmente perigosa) a possibilidade de controlar sozinho todo o processo de revisão, diagramação, registros, design de capa, etc. Pode parecer que está se fazendo um ótimo negócio ao evitar gastos com designers e revisores, mas este é um ponto crítico e cheio de pegadinhas cruéis, porque a grande maioria dos autores não sabe avaliar correta e tecnicamente a qualidade gráfica e estética de uma capa, da produção do eBook ou da impressão do livro por exemplo. Muitos acham que sabem DIZER se uma capa é boa ou não, mas FAZER uma capa boa, profissional e que “venda” o livro depende de conhecimento técnico e habilidades específicas que poucos profissionais possuem.

Por se tratar de uma plataforma onde o autor é incentivado a fazer tudo sozinho, muitos detalhes que parecem desnecessários ou dispendiosos para o autor independente podem provocar uma “dor de dente” terrível lá na frente. Design profissional e revisão são cuidados que não podem faltar na publicação de livros, principalmente naqueles que você deseja que sejam comprados pelas pessoas.

Outro fator que merece uma decisão menos apressada é a chamada “exclusividade de publicação”. Algumas empresas realmente publicam o livro ou eBook de graça, mas exigem exclusividade para a publicação e o autor pode ficar amarrado, por força de contrato, durante anos com uma mesma empresa.

A exclusividade em alguns contratos pode se estender para a distribuição e venda também, forçando o autor a comprar e vender seus livros e eBooks somente através do site da empresa, limitando a possibilidade de outros canais de distribuição que o autor poderia utilizar se não estivesse preso neste tipo de contrato.

Divulgação de livros

Dificilmente estas empresas divulgarão o seu livro “de graça” também. Ter um livro publicado tanto numa plataforma de autopublicação como por uma editora tradicional não é garantia de que o seu livro se transformará no mais novo bestseller da praça.

Você vai precisar de divulgação (de uma boa divulgação) e estes serviços são oferecidos como “pacotes extras” (e pagos) nas plataformas de publicação gratuita de livros e é aí que estas empresas pagam o almoço.

Direito autoral

Direito autoral é outro ponto que o autor deve avaliar com bastante cuidado. No caso dos eBooks publicados na Amazon, só para citar um exemplo, a remuneração dos autores pode chegar até 70% do preço de capa do título, depois de descontados impostos e demais encargos, mas eles exigem exclusividade para vender o eBook nestes casos. Geralmente, a comissão dos autores fica entre  20% e 40% na maioria das plataformas de autopublicação gratuita.

Em se tratando de uma grande editora que vai disponibilizar o seu livro impresso nas redes livreiras e nos principais e-commerces, além de cuidar de toda a burocracia, marketing, assessoria de imprensa, produção, etc. vale a pena se remunerar somente dos tradicionais 10% de Direitos Autorais, mas se a sua intenção é realmente se autopublicar sozinho não é vantagem alguma economizar em marketing ou na comissão dos canais de distribuição. Só para se ter uma ideia, algumas livrarias e distribuidoras cobram até 60% de comissão só para colocar o seu livro impresso na prateleira, fora gastos que você assume com logística/transporte e estoque.

Meu conselho é:

Fuja do que parece “fácil demais”! Se você vai mesmo se autopublicar, seja em eBook ou através do livro impresso, pelo menos dê um tratamento mais profissional à sua obra. Gastar um pouquinho mais nas etapas de marketing, design, revisão e distribuição podem melhorar muito as vendas do seu livro.
Pense nisso!

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