Posso ler um ebook do Kindle no Lev ou Kobo ou vice-versa?

Um tipo de dúvida muito comum que os leitores enviam através dos comentários aqui no Vida Sem Papel é: eu posso ler no Lev ou Kobo um ebook do Kindle, ou no Kindle um ebook do Lev ou Kobo, ou ainda, posso ler no Kindle um ebook da iBooks Store da Apple ou da Google Play Livros, e tantas outras combinações?
Na verdade, a resposta depende de quais e-readers, lojas e formatos de arquivo estão envolvidos na pergunta. Eu quero com este artigo te ajudar a descobrir a resposta para sua dúvida. Vamos então entender melhor como isso tudo funciona.
 

Ebooks comprados raramente são de uso livre

A primeira coisa importante a entender é que não é comum uma loja online que venda legalmente ebooks sem DRM (Digital Rights Management, ou Gerenciamento de Direitos Digitais), ou seja, ebooks que não possuem qualquer tipo de proteção contra cópia, que você possa ler o arquivo onde quiser sem se preocupar.
Uma rara e apreciada exceção desta regra é a loja online da O’Reilly, conhecida editora que publica livros técnicos da área de informática. Na O’Reilly, a grande maioria dos ebooks são disponibilizados em vários formatos populares, como EPUB, MOBI e PDF (alguns poucos só estão disponíveis em formato PDF). E, ao contrário da regra, estes arquivos são livres, sem qualquer tipo de DRM. Você pode portanto lê-los onde quiser e bem entender, seja no computador, e-reader, ou pode até imprimi-los.
Mas como eu disse, este exemplo da O’Reilly é uma exceção. A grande maioria das lojas implementa algum tipo de DRM, sendo que a grande maioria implementa uma forma de DRM que impede que o usuário sequer consiga abrir o arquivo se não foi o usuário dele quem o adquiriu.
Para exemplificar este DRM mais “radical”: se eu comprar um ebook na Amazon, o arquivo que eu recebo e baixo no meu Kindle está “codificado” de uma forma que só com o meu usuário da Amazon registrado naquele Kindle eu poderei abri-lo. Se eu de alguma forma pegar aquele arquivo e colocá-lo no Kindle da minha irmã, ele não o reconhecerá, pois o usuário é outro, embora ambos estejam usando Kindle.
Isso não é uma questão de formato de arquivo, que é outro fator importante (vou explicar melhor daqui a pouco). Isso é simplesmente a forma como a loja que vende aquele ebook restringe o uso do mesmo para apenas o usuário que o comprou.
Então esta é a primeira informação que você precisa saber sobre a loja onde você pretende comprar seu ebook: qual DRM ela utiliza, é uma solução proprietária ou um DRM mais “conhecido” como o da Adobe?
 

O que significa dizer que a loja online utiliza um DRM proprietário?

Dizer que uma determinada loja online utiliza um DRM proprietário significa que somente os produtos daquela loja poderão abrir os ebooks protegidos com aquele DRM, independentemente do formato do arquivo.
Para fazer uma analogia mais conhecida e mais fácil de você entender, é como se você tivesse um arquivo protegido com senha. Ou seja, você pode ter inúmeros aplicativos que podem abrir aquele arquivo, mas se você não tiver a senha, não adianta, o aplicativo não poderá abri-lo.
Um exemplo clássico neste caso é a Amazon. Ela usa um DRM proprietário, de forma que somente os produtos da Amazon (o Kindle e os aplicativos Kindle para várias plataformas) abrem os ebooks que ela vende.
Isso portanto já responde uma parte da pergunta que é tema deste artigo: a princípio, você não pode ler um ebook do Kindle comprado na Amazon em outros e-readers como o Lev ou Kobo, ou em outros aplicativos que não sejam os aplicativos disponibilizados pela Amazon.
Por isso a Amazon disponibiliza aplicativos do Kindle para as mais variadas plataformas, além do leitor webKindle Cloud Reader: para garantir que o leitor conseguirá ler os ebooks que ela comercializa nas principais plataformas, caso a pessoa opte por não adquirir um Kindle.
 

O que significa dizer que a loja online usa um DRM padrão ou conhecido?

Existem inúmeras lojas que atualmente utilizam o DRM da Adobe. Isso significa que o ebook ainda é protegido, mas desta vez ele pode ser acessado através do seu ID (usuário) da Adobe.
Desta forma, embora o ebook esteja protegido, o leitor poderá abri-lo em qualquer e-reader que suporte o DRM da Adobe. E este DRM é de fato muito popular.
Neste caso, a loja geralmente permite que você baixe um arquivo (geralmente com extensão .acsm) para abri-lo no Adobe Digital Editions. E de lá, você poderá enviá-lo para o seu e-reader que suporta o DRM da Adobe.
Pelo fato de este DRM ser tão popular, é polêmico o fato de o Kindle não suportá-lo, por ser um e-reader também tão popular. Neste caso, o Kindle acaba sendo bem fechado, pois ele só suporta o DRM da Amazon, e os ebooks da Amazon só podem ser lidos no Kindle.
O mesmo vale para os ebooks comprados na iBooks Store da Apple: o DRM é proprietário e portanto você só poderá ler os ebooks comprados nesta loja no iBooks da Apple (seja em dispositivos iOS ou no iBooks para MacOS).
Mas é claro que a Amazon e a Apple investem em outros aspectos de seus serviços para que eles continuem sendo interessantes para os usuários mesmo com esta questão do DRM proprietário.
Por outro lado, o Lev da Saraiva e o Kobo da Livraria Cultura suportam sim o DRM da Adobe, permitindo então que você possa ler nestes e-readers os ebooks comprados em outras lojas que suportem este DRM.
Para esclarecer melhor, em um dos próximos posts eu publicarei um tutorial de exemplo, mostrando como abrir no Lev um ebook comprado na Kobo Books ou Livraria Cultura. Assim ficará mais fácil você entender como isso funciona na prática. Fique ligado!
 

É possível remover o DRM de um arquivo de ebook?

Existem hacks que removem a proteção do DRM de arquivos de ebooks. Com isso, o arquivo fica “desprotegido”, podendo portanto ser usado livremente.
É importante frisar que a remoção de DRM de ebooks (ou de qualquer outra mídia) é um assunto bastante polêmico.
Primeiro, porque isso normalmente está associado à pirataria e à ilegalidade. Ou seja, se você remover o DRM de um arquivo, e depois passá-lo para alguém, mesmo que com boas intenções, você estará fazendo pirataria, que é crime.
Segundo, porque isso vai contra as normas de todas as lojas online que usam DRM (sabe aquelas letrinhas miúdas que a gente nunca lê e diz que aceita, quando cria um usuário ou usa algum destes serviços ou mesmo quando usa um aplicativo de leitura? Pois é, ali você está concordando que não irá remover o DRM dos arquivos adquiridos naquela loja).
Se você mora nos Estados Unidos, é ainda mais grave: a remoção de DRM de arquivos é crime neste país, não só a distribuição. Lá, se você simplesmente remove o DRM para “uso pessoal”, mesmo que não repasse o arquivo para ninguém, já está cometendo um crime.
 

E quanto a ebooks sem DRM, posso lê-los no meu e-reader?

Se o ebook não tem DRM, ou seja, se ele não foi protegido contra cópia, ainda resta uma questão para saber se você poderá lê-lo no seu e-reader: o formato do arquivo.
Você precisará então identificar quais os formatos de arquivo são suportados pelo seu e-reader, e checar se o formato do arquivo em questão pode ser lido diretamente no e-reader. Se você possui um Lev, Kobo ou Kindle, pode checar os formatos suportados nas tabelas de comparação que eu preparei para os principais modelos destas três famílias de e-readers.
No caso do Kindle, além dos formatos suportados nativamente pelo e-reader, há mais formatos que podem ser convertidos pela própria Amazon de forma bem prática, enviando os arquivos por email ou através do aplicativoSend to Kindle (eu menciono estes formatos nas tabelas que citei acima).
Caso o formato do arquivo não seja suportado, você provavelmente poderá convertê-lo para um formato que seja suportado. Para isso, eu sugiro usar o aplicativo Calibre, que suporta a conversão de vários formatos de arquivos de ebooks.
 

Conclusão

Esta questão é complexa, mas espero ter explicado os pontos principais pelo menos para você entender porque você não pode ler, por exemplo, ebooks do Kindle no Kobo ou no Lev (pelo menos, não sem remover o DRM e converter os arquivos).
Espero também que você tenha entendido quais informações você precisa obter de uma loja ou livraria online para saber se os ebooks que ela vende podem ou não ser lidos no seu e-reader (lembrando que você deve sempre contactar o suporte oficial da loja para obter esta informação, não confie apenas em informações encontradas na web pois elas podem estar desatualizadas e/ou incorretas).
E a mensagem final que eu quero te passar é esta: nunca gaste dinheiro comprando ebooks em lojas online sem se certificar primeiro que você poderá lê-los no dispositivo onde você deseja lê-los.
Isso vale para e-readers e também para tablets, smartphones, e até mesmo computadores. Confira as informações sobre o DRM usado nos arquivos e também o formato dos mesmos antes de adquiri-los.
Ah, e antes que alguém comece um discurso dizendo como é melhor baixar ebook pirata do que usar ebooks com DRM, eu peço: não faça isso. Não deixe de recompensar os trabalhadores envolvidos na produção de um livro, seja ele qual for. Eu também sou contra o DRM, e eu dou preferência a lojas que não usam DRM (desde que legalmente). Mas se uma loja com DRM é a única maneira de eu adquirir honestamente um determinado livro que eu quero ler em formato digital, então que seja, eu prefiro lidar com o DRM do que defraudar alguém.
Se você tiver alguma dúvida sobre alguma das questões técnicas apresentadas aqui, faça sua pergunta nos comentários após o post.
 
Publicado originalmente por Cris Ferreira no Vida sem papel

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