Atores voltam-se para mercado de audiolivros

Gabra Zackman é um novo tipo de estrela teatral: ela é ouvida, mas não conhecida.
Zackman teve um aprendizado clássico no Shakespeare Theater em Washington, trabalhou em teatros regionais e fez algumas aparições em programas de TV. Mas essas apresentações não lhe trouxeram fama nem fortuna.
Em vez disso, como um número crescente de atores, ela encontrou emprego regular como narradora no mundo florescente dos audiolivros.
Nos últimos anos, Zackman gravou mais de 200 títulos. Ela diz que hoje pode contar com dois livros por mês, ganhando de US$ 1.000 a US$ 3.000 por obra.
Antes um recanto isolado da indústria editorial, em parte por causa da natureza incômoda das fitas, hoje os audiolivros estão florescendo. As vendas têm subido dois dígitos anualmente nos últimos anos. Um estudo recente feito por grupos do setor mostrou que a receita de audiolivros cresceu 22% em 2012, comparada com a de 2011.
Grande parte do crescimento pode ser atribuída à transformação digital do negócio -de como os livros são gravados (cada vez mais em estúdios nas casas dos atores) a como são vendidos (por meio de assinaturas ou individualmente na internet) e consumidos (baixados em dispositivos móveis).
Esse desenvolvimento é bom para as editoras e para os autores, é claro. Mas também criou oportunidades de emprego para atores em busca do estrelato, permitindo que eles paguem suas contas fazendo algo mais do que servir mesas.
A Audible, maior produtora e vendedora de audiolivros, diz que produziu cerca de 10 mil obras gravadas no ano passado –ou diretamente ou por meio de um serviço oferecido pela empresa que permite que os autores contratem os atores diretamente. Cada livro exige em média dois ou três dias de gravação.
Donald R. Katz, fundador e executivo-chefe da Audible, que foi comprada pela Amazon.com em 2008, disse que sua empresa empregou 2.000 atores para narrar livros no ano passado.
Assim como em outras formas de atuação, a remuneração varia conforme a fama.
Um ator desconhecido pode ganhar alguns milhares de dólares por livro, enquanto estrelas como Nicole Kidman, que recentemente narrou “Passeio ao Farol”, de Virginia Woolf, para a Audible, podem receber centenas de milhares.
O campo é tão promissor que as escolas de teatro, incluindo instituições de prestígio como a Juilliard School em Nova York e a Universidade Yale em Connecticut, começaram a oferecer oficinas de narração de áudio.
Courtney Blackwell Burton, diretora de serviços profissionais na Juilliard, disse: “É muito animador, porque é uma nova fonte de renda e de trabalho que realmente usa o que eles aprenderam”.
Katherine Kellgren deu aulas de narração em várias escolas de teatro. Ela disse que está entusiasmada ao ver que a narração de áudio finalmente é reconhecida. Kellgren estudou na Academia de Música e Arte Dramática de Londres durante três anos.
Hoje ela se diz uma narradora de audiolivros, em vez de atriz, e ganha até US$ 450 por hora de narração.
Outro ator, Jonathan Davis, também consegue cobrar um bom preço. Ele narrou mais de 30 livros de “Guerra nas Estrelas” para a Lucasfilm e a editora Random House.
Seu estilo é mais contido que o de Kellgren. “Eu pinto toda a imagem, mas sou muito controlado”, disse ele.
“Um fã certa vez me disse que minha narração era como ‘uma visão moderna de se sentar ao redor da fogueira e escutar os anciãos da tribo'”, acrescentou. “Isso me faz sentir que estou no caminho certo.”
 
Publicado originalmente por Leslie Kaufman do “New York Times” na Folha de São Paulo
 
 

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