Daqui a duas semanas, Fortaleza recebe o primeiro Festival de Biografias do Brasil, que já estava programado bem antes de esquentar todo o debate envolvendo artistas, jornalistas, juristas, editores e biógrafos. A polêmica provavelmente fará parte da pauta, junto a outras questões como a reflexão sobre como se faz, por que se faz, como escolher um personagem e por que a procura pelas biografias. Certamente, se o assunto vem provocando tantas controvérsias, é porque existe interesse e um grande mercado por trás. Mas será que biografia é mesmo vendável e rentável como tem sido propagado?
Segundo a última pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP), realizada anualmente por encomenda do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em 2012, o setor editorial brasileiro faturou R$ 4,9 bilhões e vendeu 434,9 milhões de livros. No ano anterior, o faturamento foi menor, R$ 4,8 bilhões, porém, mais obras foram comercializadas, 469,4 milhões.
Dentro deste contexto, no segmento das biografias foram produzidos 6,5 milhões de livros em 2011, e 4,1 milhões, em 2012, representando participação de 1,3% no mercado editorial. Uma redução significativa. No entanto, segundo pesquisa da GFK Brasil, uma das maiores empresas de pesquisa de mercado no mundo, o gênero ocupa atualmente a quinta posição em vendas no país e apresentou crescimento de 14% entre janeiro e setembro de 2013, comparando com o mesmo período do ano passado. Mas, sem dúvida, esses números poderiam melhorar ainda mais, como atestam os especialistas.
“As restrições impostas pela legislação e por parte de alguns herdeiros, além dos custos muito elevados, desencorajaram as editoras a seguir adiante com o mesmo ímpeto da década de 1990, quando começaram a pipocar os livros de biógrafos como Ruy Castro e Fernando Morais. Acredito que o auge mesmo ainda não chegou. Há uma carência de biografias muito evidente no mercado brasileiro. A população tem sido prejudicada em sua busca por conhecimento”, lamenta Bernardo Ajzenberg, diretor-executivo da Cosac Naify, editora que tem no catálogo as biografias de Clarice Lispector, Jayme Ovalle, Matisse e Cícero Dias.
Bernardo também lembra que o custo de produção de uma biografia é muito elevado (pesquisas, viagens, digitalização de arquivos, direitos para uso de imagens, entre outros gastos) e que só perde para os livros de arte. “A rentabilidade vem com muita lentidão e é relativamente baixa”, assegura.
Insegurança
Presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Sônia Jardim é outra que acredita que a insegurança jurídica que ronda o mercado possa intimidar as editoras e os próprios autores a publicar e a escrever biografias. “É um trabalho que exige muitos anos de pesquisa e investimentos. Os escritores e os autores ficam amedrontados. Você não sabe o que vai acontecer. Gasta-se com o lançamento, com a feitura do livro e, de repente, se tiver algum problema, os custos para a retirada do mercado ainda são maiores. Fora que ainda é preciso contratar advogado”, explica.
Sônia revela o surgimento de um novo profissional no setor, o consultor jurídico, que avalia previamente se o livro terá ou não complicações com biografados, herdeiros ou representantes legais. Ela diz que, às vezes, se torna preferível publicar biografias estrangeiras, porque certamente provocam menos chateações.
“Quem sai prejudicada é a história do Brasil e isso também afeta na formação de futuros leitores. Não tenho estudos para comprovar, mas ouso dizer até que a maior parte das biografias que se encontram em nossas livrarias são de autores estrangeiros, porque é mais fácil e mais prático. Ainda não tivemos um boom de vendas neste gênero e toda essa polêmica pode até atrapalhar”, analisa Sônia Jardim.
Publicado originalmente por Ana Clara Brant no Divirta-se