Enquanto o mercado de livros impressos registra a sua pior queda de faturamento da última década, o de livros digitais cresceu 343% entre 2012 e 2011 – período em que ele realmente começou a fazer parte da realidade do brasileiro. E os números devem ser ainda melhores em 2013, já que foi apenas em dezembro que Amazon, Apple, Google e Kobo aportaram por aqui. O que isso representa na conta bancária das editoras, porém, ainda é risível: 0,1% do que elas faturam com as vendas de impressos para o mercado.
Segundo a pesquisa Produção e Venda do Mercado Editorial, feita pela Fipe por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores (Snel), apresentada nesta terça-feira, foram produzidos no ano passado, pelas 197 editoras consultadas, 7.470 e-books e 194 aplicativos de livros. O segmento de obras gerais foi o mais bem-sucedido nas vendas de e-books: 130.119 exemplares. Já o CTP (científico, técnico e profissional) se destacou, e muito, na comercialização de aplicativos: 7.053. No total, foram vendidos 8.023 apps e 227.292 e-books. Quem ficou com a maior fatia dos R$ 3,8 milhões faturados foi o segmento de obras gerais (R$ 1.813.529,59), seguido por CTP (R$ 1.263.691,51), didáticos (R$ 520.958,26) e religiosos (R$ 253.011,68).
Voltando ao mercado tradicional, as notícias não são tão promissoras. As editoras brasileiras registraram faturamento de R$ 4,98 bilhões em 2012, um aumento de 3,04% em relação ao ano anterior. Descontada a inflação de 5,84% do período, esse ligeiro aumento vira uma queda de 2,64%. O principal vilão foi o governo, que comprou menos livros para escolas e bibliotecas. Mas isso é esperado, uma vez que esses programas são sazonais. Se em 2011 as compras movimentaram R$ 1,38 bilhão, em 2012 ficaram em R$ 1,31 bilhão.
Excluindo as compras governamentais, nota-se crescimento de 6,36% no faturamento das editoras – o valor, em 2011, era de R$ 3,44 bilhões e, no ano passado, subiu para R$ 3,66 bilhões. Descontando a inflação, chega-se a um aumento real de 0,49%.
Outro dado preocupante: o livro está 12,47% mais caro e custa, em média, R$ 13,66 (só mercado). O valor é calculado dividindo o faturamento pelo número de exemplares comercializados, e não fazendo uma média do preço de capa. Somente o setor de obras gerais não teve aumento expressivo (0,17%), ficando em R$ 8,94, e foi o que teve o melhor desempenho em vendas, com melhoria de 7,83% no faturamento e de 7,65% em exemplares vendidos. Os didáticos e os religiosos puxaram o preço para cima, com aumentos de 22,83% e 18,35%, respectivamente.
Foram produzidos, em 2012, 57.473 títulos – 20.792 em primeira edição e 36.681 reimpressões. Em 2011, os números eram, respectivamente, 20.406 e 37.787. Também foram impressos menos exemplares: 485 milhões diante dos 499 milhões de 2011. No total, foram comercializados, considerando mercado e governo, 434.920.064 exemplares em 2012 (-7,36%). Queda também na produção de títulos de autores brasileiros (de 53.506 para 51.905) e aumento nas traduções (de 4.687 para 5.568). As livrarias são responsáveis por 47,4% das vendas.
“Se a economia não está bombando, isso se reflete na venda de livro. Mas nosso mercado está estável e tem chance de crescer com a melhoria da educação”, diz Sônia Jardim, presidente do Snel. Já Karine Pansa, que dirige a CBL, é mais cautelosa: “Todo o mundo olha o Brasil como o boom editorial, mas isso não é o que vemos na pesquisa. Temos que olhar esse mercado estável com atenção para não vivermos uma crise”.
Sobre a metodologia
As editoras recebem um questionário e são responsáveis por todos os dados, que depois serão tabulados e analisados pela Fipe. Snel e CBL comentam que utilizam uma metodologia internacional. Assim, é possível situar o mercado brasileiro dentro do mercado global. Essa metodologia tem funcionado, mas não mostra, fielmente, o desempenho do mercado editorial. Explico: consta que o governo gastou R$ 2,2 milhões comprando livros do segmento “religioso”. Mas o governo não compra livros religiosos. Acontece que essas editoras também publicam obras infantis e de outros gêneros sem o viés religioso. Quando lemos a pesquisa, temos a impressão de que o mercado de livros religiosos faturou R$ 458.206.870,86 em 2012, o que não é verdade – foram as editoras que se dizem religiosas que faturaram isso. Ágape, do padre Marcelo Rossi, por exemplo, teria feito os dados desse segmento estourarem na pesquisa de 2011, já que foi o livro mais vendido daquele ano (e da história brasileira). Porém, ele foi lançado pela Globo, uma editora de obras gerais e não apareceu no recorte “religioso” da pesquisa. Mais um exemplo: para a pesquisa, a Saraiva é uma editora didática e no entanto ela tem forte atuação no segmento CTP. Seus números são computados nos didáticos.
Mudar a metodologia é complicado. Sônia Jardim considera manter o levantamento como está e desmembrar algumas perguntas para tentar ter um cenário mais real e, consequentemente, melhores informações para corrigir os erros e preparar para o futuro. Mas isso é só uma ideia.
Publicado originalmente por Maria Fernanda Rodrigues no Estadão