Os livros autopublicados: O editor está morto?

“Cidade de Vidro” é talvez o mais famoso dos livros de Paul Auster. Sucesso de vendas e de crítica, foi a obra que o projetou. Pois bem. Nada menos do que 17 editoras ofereceram um “não, obrigado” ao manuscrito do jovem autor. Tivesse ele menos paciência, talvez não batesse na décima-oitava porta. Se fosse nos dias de hoje, é possível que decidisse pela autopublicação.
Nos Estados Unidos, a autopublicação tem um apelido não muito lisongeiro – “vanity press”. Livros que deixam os editores de lado estariam satisfazendo apenas a vaidade de seus autores, que buscam colocar suas ideias entre duas capas não apenas por seu conteúdo (ou valor literário), mas pelo prazer de ver seu nome estampado em baixo-relevo.
Duas tecnologias estão revolucionando esse cenário. Impressoras modernas que conseguem produzir livros com alta qualidade a preços competitivos em pequena escala. E os eBooks e suas plataformas de leitura, como o Kindle, Nook, iPad e até mesmo o Kobo, que deve chegar ao Brasil em parceria com a nossa Livraria Cultura. É aí que surge “cauda longa”, como diria Chris Anderson, da “Wired”. De acordo com a americana “Publishers Weekly”, o número de obras autopublicadas nos Estados Unidos chegou a impressionantes 211.269 livros em 2011.
A presença das gigantes Amazon e Penguin são outro sinal de que a onda dos livros autopublicados é coisa séria. A Amazon apresentou recentemente o seu CreateSpace, que é a sua plataforma de publicação feita pelo autor. A Penguin, que já tinha uma área de autopublicação, a Book Country, decidiu investir mais de 100 milhões de dólares na compra da Author Solutions, talvez a mais famosa empresa do tipo no mundo.
Duas histórias recentes sugerem que o Brasil esteja também trilhando o caminho das publicações solitárias. Dois amigos-autores decidiram editar por conta própria. O primeiro lançou com sucesso seu próprio “comic book”, ganhando até mesmo um prêmio de revelação do ano. Outra amiga optou por um processo “híbrido”. Ela conta com um editor, mas deve imprimir apenas cem livros. Uma conta onde os dois lados saem ganhando – a aposta fica menor quando o prejuízo é menor, obviamente. E o seu livro consegue chegar às prateleiras e ao coquetel de lançamento.
Talvez o futuro dos livros autopublicados seja muito parecido com os TEDBooks. Quem conhece a plataforma TED já se acostumou a ver pequenas palestras, de não mais de vinte minutos, que falam de ciência, tecnologia, filosofia, ecologia. Os TEDBooks são livros multimídia, com vídeos e infográficos e que, como as palestras, apostam nas porções tamanho P. Para o intelectual apressado, eu diria.
É claro que a grande questão é aquela do joio e do trigo. Muito do que se lê é baseado no que se vende. Se é best-seller, deve ser bom (como já tratei em outro texto). Como leitores, acreditamos no ponto de vista de editoras consagradas (e de seus editores), na opinião de críticos que respeitamos e até mesmo no fenômeno de vendas. Como escolher o que colocar na cabeceira em um oceano de possibilidades? Talvez a mesma tecnologia que ajuda autores a publicar seus livros ajude também os leitores. Robozinhos-editores nos ajudarão a montar nossa biblioteca infinita por afinidade. Gostou de Kafka? Talvez goste deste livro também.
 
Publicado no Confeitaria por James Scavone

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