Amazon resolve o desafio logístico e começa a operar com produtos físicos no Brasil

As relações que a Amazon vinha mantendo com o mercado brasileiro até agora eram parecidas com sexo virtual, pois algo fundamental para um bom e-commerce – e para um bom sexo – estava ausente: o aspecto físico. Afinal, a gigante de Seattle só vendia e-books e apps em sua loja brasileira, e para isto não era preciso nenhum tipo de operação logística em terras tupiniquins, apenas um bom sistema de pagamentos em reais. Por isso, os aparelhos de leitura Kindle eram comercializados por parceiros, seja virtualmente como na Ponto Frio ou em lojas físicas como na Livraria da Vila. Até quiosques para a venda de Kindles em shopping centers foram tentados, e a última novidade é que a carioca Casa & Video vai comercializar o aparelho.
KindlesMas agora a Amazon resolveu levar seu romance com o mercado brasileiro para o patamar físico e desde hoje pela manhã já está comercializando seus Kindles diretamente em sua loja, responsabilizando-se por todo o processo de faturamento e entrega. Aos olhos mais inocentes, isto pode não parecer grande coisa, mas na verdade a inauguração da logística da Amazon é mais importante que a própria abertura de sua loja. Afinal, muitos apostavam que a empresa norte-americana teria imensas dificuldades para aportar por aqui, justamente devido aos desafios que a péssima logística brasileira impõe a qualquer varejista. Ainda resta ver qual será a qualidade do serviço oferecido e até que ponto a Amazon realmente resolveu seu maior desafio. Mas o fato é que a empresa não costuma lançar nada abaixo de um certo padrão de qualidade e teria feito inúmeros testes de envio a várias cidades brasileiras para poder garantir as expectativas dos consumidores locais.
Para a indústria de livros, a entrada da empresa de Jeff Bezos no e-commerce de mercadorias físicas é um divisor de águas. Enquanto atuava apenas na venda de e-books em sua loja brasileira, a gigante de Seattle estava mais para a anã da Berrini (seu escritório em São Paulo fica próximo à avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini). Em 2012, a participação dos livros digitais no mercado de livros de interesse geral ficou em no máximo 3% e a Amazon teria cerca de 30% deste mercado. Ou seja, a empresa norte-americana não teria nem 1% do mercado de livros de interesse geral. Se considerarmos o mercado editorial inteiro, com CTP (Cientifico, Técnicos e Profissinais) e Didáticos, sua participação então seria ínfima. Neste cenário, a Amazon tinha pouquíssimo poder de barganha junto aos editores, em uma situação completamente diferente daquela de outros mercados onde a empresa vende livros físicos com eficiência. Isto explica as concessões que a empresa teve que fazer ao negociar seus contratos digitais no Brasil, aceitando até limitações aos descontos que poderia oferecer na loja, os quais, em alguns casos, não podem ser superiores a 5%.
Mas agora o jogo é outro. A Amazon já estava desde o ano passado negociando contratos para venda de livros físicos com as editoras brasileiras, embora ainda não tivesse uma operação logística em funcionamento. Agora, a operação está ativa. Quem despacha Kindle, despacha qualquer coisa, e não há dúvidas de que livros físicos estão na mira da empresa para entrarem na loja o mais rápido possível. Aliás, além dos três modelos de Kindle, a loja brasileira da Amazon já está vendendo capas e adaptadores de tomada para os aparelhos. E quando os livros físicos chegarem aos seus estoques, a Amazon ganha poder de barganha e uma proteção contra as barreiras criadas por alguns concorrentes brasileiros que usaram sua força no físico para tentar retardar a entrada da Amazon no digital. Agora, o jogo começa a se inverter., pois quando estiver operando com livros físicos, serão os editores que terão interesse em vender para a Amazon mais do que a Amazon terá interesse em comprar dos editores, como foi até agora.
No que tange à venda direta de Kindles pelo seu próprio site, algumas observações são importantes. Em primeiro lugar, os preços são os mesmos que eram oferecidos antes pelos parceiros de distribuição da Amazon. O modelo Kindle continua a R$ 299, o Paperwhite a R$ 479 e o Paperwhite 3G a R$ 699. Preços ainda longe dos valores cobrados nos EUA, devido à alta tributação brasileira. Fica a dúvida então de por que a Amazon não aproveita a venda direta para reduzir os preços do Kindle oferecendo ao consumidor a margem que antes ficava com seus parceiros. Talvez ela não queira prejudicar as empresas que a apoiaram e que ainda têm estoques do aparelho, mas não será nenhuma surpresa se os preços caírem em breve. De qualquer maneira, o frete oferecido pela Amazon é grátis. Kindle
Vale também observar que as entregas serão feitas pelos Correios e pela Directlog. Uma entrega em São Paulo ou no Rio de Janeiro está prometida dentro do prazo de 1 a 3 dias úteis. Já os compradores de Macapá, por exemplo, terão de esperar de 8 a 11 dias úteis.
A ferramenta de 1-Clique, que permite compras com apenas um clique do mouse e sem redigitar dados e número do cartão de crédito, já está em operação também. Quem sabe o e-commerce brasileiro se inspire na ideia e pare de pedir o número de cartão de crédito a cada compra.
Agora é esperar os livros físicos, lembrando que a Amazon já é uma das maiores varejistas de livros importados no Brasil, que são vendidos diretamente da matriz americana. Nada impede, portanto, que tais livros importados sejam vendidos em breve na loja brasileira, em reais e com redução de custos de frete para o consumidor brasileiro.
E é só agora, com a Amazon levando sua relação com o mercado brasileiro para um patamar físico e palpável, que está de fato começando a disputa por esta grande musa: os leitores brasileiros.
 
Publicado originalmente por Carlo Carrenho no Publish News

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