Em uma matéria publicada n’O Estado de S.Paulo na última semana, a competente jornalista Maria Fernanda Rodrigues publicou alguns dados bastante reveladores obtidos em uma entrevista com Robert Feith, o presidente do conselho da poderosa DLD (Distribuidora de Livros Digitais) que agrega e distribui de forma exclusiva os e-books da Objetiva, Record, Planeta, Rocco, L&PM, Novo Conceito e Sextante. Vamos aos dados:
- A DLD vendeu 50 mil exemplares digitais em dezembro de 2012
- As vendas de e-books cresceram 110% em dezembro se comparadas a novembro de 2012
- O crescimento das vendas de e-books foi de 900% entre dezembro de 2012 e dezembro de 2011. (“A venda dos e-books cresceu exatamente dez vezes…”, declarou Feith).
- A expectativa da DLD é que o crescimento seja de 250 a 300% em 2012
Estes dados são bastante interessantes e já permitem algumas conclusões, mas falta uma variável fundamental para que se possa extrapolar estes números para o mercado total: o market share da DLD. Em busca deste número, conversei informalmente com algumas e-bookstores e a participação dos títulos da DLD em suas vendas varia bastante, de 20 a 45%. Diante destes dados e considerando a relevância do catálogo da DLD e seu tamanho – entre 1.900 e 2.000 títulos –, é possível arriscar um chute – ou guesstimate, como dizem os gringos – que a DLD é hoje responsável por um terço das vendas de livros digitais. Ou seja, o mercado teria vendido 150 mil e-books em dezembro de 2012 se a DLD vendeu 50 mil e-exemplares.
E quanto isto representa do mercado? É possível fazer um cálculo aproximado, utilizando-se a última pesquisa de Produção e Vendas do Mercado Editorial Brasileiro publicada pela Câmara Brasileira e elaborada pela FIPE, e que se refere ao ano de 2011. Vejamos os dados apurados:
Subsetor | Exemplares |
Didáticos | 60.602.520 |
Obras Gerais | 101.212.635 |
Religiosos | 87.797.318 |
CTP | 34.371.908 |
TOTAL | 283.984.382 |
No caso do mercado digital, não faria sentido considerar nem didáticos e nem religiosos, cuja participação ainda é irrelevante. Já CTP é um setor que já começa a encontrar representatividade, até porque a Editora Saraiva possui o maior catálogo digital no Brasil com 2.800 títulos. Portanto, nossa base de comparação seria a soma de exemplares de Obras Gerais com CTP, que é 135.584.543 de exemplares ao ano ou 11.298.712 de exemplares ao mês em média.
Agora, teoricamente, bastaria pegar nossa estimativa de 150 mil livros digitais vendidos em dezembro no Brasil e compará-la com a média mensal de 2011, já tomando a licença poética de que não haveria crescimento em 2012, uma vez que não temos números de vendas para o ano passado. Mas há um problema: a sazonalidade. Dezembro é o pior mês do ano para se aplicar uma média baseada em vendas anuais, uma vez que é o mês de maior vendas. Para minimizar a sazonalidade, vou aplicar uma técnica utilizada pelo varejo que é considerar um ano de 13 meses, onde as vendas de dezembro seriam equivalentes a dois meses. Neste caso, nossa estimativa de venda de livros físicos em dezembro de 2012 baseada na pesquisa da CBL seria de 20.859.160 exemplares. E os 150 mil exemplares digitais equivaleriam a 0,72% do total de vendas físicas e digitais de dezembro de 2012. E, convenhamos, 0,72% é um número surpreendente.
O mais interessante, no entanto, seria saber não o número de dezembro, mas o número de 2012. Como o presidente da DLD apresentou as taxas de crescimento do mês passado em relação a novembro de 2012 e a dezembro de 2011, conseguimos fazer uma regressão exponencial que nos trará a curva de crescimento do mercado brasileiro, ainda que esta tenha um desvio padrão alto em virtude das poucas variáveis presentes. A curva está abaixo e já está extrapolada para estimar todo o mercado brasileiro, ou seja, os números da DLD foram multiplicados por três:
Para calcularmos as vendas do ano, basta aplicar a fórmula da regressão e somar os resultados de vendas estimadas em cada mês, o que nos traz um resultado de 632.546 e-books vendidos no Brasil em 2012. Comparado com o total de exemplares físicos vendidos anualmente (2011) dos setores de CTP e Obras Gerais (135.584.543), o mercado digital brasileiro em 2012 teria sido responsável por 0,47% dos exemplares vendidos. (É importante realçar que estas porcentagens consideram apenas livros das áreas de CTP e Obras Gerais).
E para 2013? É possível estimar alguma coisa? Bem, baseando-se ainda nos números e previsões da DLD divulgados por Robert Feith e na premissa de que a DLD possui 33,33% do mercado brasileiro e continuará assim, é possível fazer a mesma regressão exponencial para o ano que vem. Como Feith espera um crescimento entre 200 e 300% ao final do ano, em dezembro de 2013, apliquei a média de 250% sobre as vendas de dezembro de 2012. As vendas estimadas da DLD no úlitmo mês deste ano seriam então 175,000 exemplares e foram extrapoladas para 525.000 exemplares vendidos pelo mercado como um todo. Vamos ao gráfico:
O total de exemplares vendidos em 2012, com base no gráfico, seria de 3.572.074. Se compararmos mais uma vez com as vendas totais de 2011 de livros físicos das categorias CTP e Obras Gerais, o mercado digital em 2013 equivalerá a 2,63%.
Resumindo, baseando-se nos números da DLD divulgados pelo jornal O Estado de S.Paulo, utilizando-se as estimativas de vendas da pesquisa da CBL de 2011, considerando-se que a DLD representa um terço do mercado, isolando-se apenas os setores de CTP e Obras Gerais, e considerando-se uma forte sazonalidade no mês de dezembro (as vendas seriam o dobro dos outros meses), chegamos aos seguintes números do mercado de livros digitais brasileiros:
Em dezembro de 2012 o número de e-books vendidos equivaleu a 0,72% do número de exemplares físicos vendidos para os subsetores de CTP e Obras Gerais.
No ano de 2012, as vendas de exemplares digitais foi 0,47% das vendas de exemplares físicos nos subsetores em que existe presença digital, i.e. CTP e Obras Gerais.
Em 2013, baseando-se nas expectativas de crescimento da DLD, o mercado de ebooks brasileiro deve ser responsável por 2,63% dos livros vendidos no Brasil nas categorias já mencionadas.
Discussão
Uma questão que ainda é difícil abordar é quanto as vendas digitais vão canibalizar as vendas físicas no Brasil. Ou seja, estes 3,5 milhões de livros digitais que serão vendidos em 2013 serão uma venda adicional? Ou Simplesmente substituirão as vendas físicas? Ou será um pouco de cada? Qual sua opinião? Deixe seu comentário abaixo.
Fonte: Tipos Digitais