Passada a tempestade da polêmica dos e-books ofensivos da plataforma de autopublicação Kobo Writing Life, que levou a rede parceira W.H. Smith a tirar a loja online do ar durante 9 dias no Reino Unido, Michael Tamblyn, diretor de conteúdo da Kobo, descreveu um pouco os bastidores da lição de curadoria de e-books autopublicados que a empresa teve que aprender a duras penas.
No seu discurso no evento Futurebook, no Reino Unido, Michael resumiu o problema: “Se você remover todos os títulos, você não tem um negócio. Se remover qualquer título, alguns acharão que você é um censor. Se remover todos os títulos com conteúdo sexual, você é um censor. Se não remover aqueles que ferirem os termos de uso do site, afetará as relações públicas e imagem da marca. Todo livro que você remove cria um autor irado. Todo autor tem uma conta no Twitter. Todo jornalista quer achar o pior título possível”. O resultado, contou Tamblyn, foi um ‘Eroticagate’, onde foi necessário fazer a curadoria de 4 milhões de títulos, e se deparar com perguntas do tipo: “Sexo com um shape shifter é considerado bestialidade? E se ambos os personagens forem sobrenaturais?”.
Tamblyn comparou o papel dos livreiros e editores tradicionais, que têm o costume de dizer não para livros, com a promessa da autopublicação de que tudo é possível, e como cada livro removido é um passo para se afastar desse ideal. Com tantas discussões sobre o papel dos editores no mundo da autopublicação, como o debate ‘guardião dos portões vs. curador’, é interessante ver que, na prática (e esse embate da Kobo e de outras plataformas foi o primeiro caso onde o debate foi colocado em prática), não há uma regra específica, e o que guiou o diretor de conteúdo no final das contas, foi a intuição e opinião pessoal, assim como os editores tradicionais. “Quando a resposta é outra que ‘nós aceitamos tudo’, você tem que analisar friamente que tipo de livreiro você quer ser. O que significa ter esse papel. E decidimos que o lugar certo para nós é no exato ponto onde deixa de ser confortável”, conclui Tamblyn. Veja o discurso completo aqui.
Publicado originalmente por Iona Teixeira Stevens no PublishNews