Serviços de assinatura de obras virtuais ganham força no mercado editorial

Tipos de “Netflix” de livros fazem sucesso nos Estados Unidos e na Europa, mas o mercado brasileiro ainda engatinha
Mal o público brasileiro começou a se acostumar aos e-books, e outra mudança significativa no mercado editorial já se avizinha. Forte tendência apontada para os próximos anos é o uso de serviços de assinatura mensal para o acesso ilimitado a acervos de livros virtuais, já significativos nos Estados Unidos e Europa. Em vez de comprar exemplares únicos, o usuário paga um valor módico e, assim, pode ler à vontade. Apelidado de “Netflix dos livros”, esse novo jeito de consumir literatura pega carona no bom desempenho dos vídeos e músicas transmitidos via streaming.
Entre os pioneiros, destaca-se o Scribd (US$ 8,99 mensais, cerca de R$ 21,15), há pouco reforçado com 225 mil livros da Smashwords, editora independente norte-americana. Até poucos meses, antes de se reciclar, o site era conhecido por funcionar como repositório de e-books piratas. Ao lado dele, ganham força as plataformas Oyster (US$ 9,99/mês, ou R$ 23,51), Ereatah (US$ 14,99/mês, ou R$ 35,27) e a brasileira Nuvem de Livros (R$ 20/mês). Por enquanto, a maioria das opções é em inglês.
O otimismo acerca do novo modelo é compartilhado entre editores e escritores. “Os autores que financiam as próprias edições vão ficar malucos com isso. Muitos parecem valorizar os livros mais que os próprios filhos. Eles fariam qualquer coisa para conseguir mais leitores”, disse ao jornal The New York Times Mark Coker, executivo-chefe da Smashwords. Da parte do mercado editorial, um trunfo em potencial é a chance de conhecer os pormenores dos consumidores. Sem fazer segredo, as empresas monitoram os hábitos de leitura dos usuários para disponibilizar as informações às editoras. Garantem o anonimato, mas não oferecem a opção de não ser vigiado.
Com o recurso, as companhias mensuram, por exemplo, quanto tempo os leitores levam para terminar um livro, investigam se alguns trechos são pulados ou até se o e-book é abandonado antes do fim. Munidas desses dados, elas podem adaptar os produtos e, quem sabe, buscar uma “fórmula” para a criação de best-sellers. O executivo-chefe do Scribd, Trip Adler, confirma o uso do monitoramento dos hábitos de leitura e diz ser essa uma “contribuição para as pessoas publicarem livros melhores”.
Algumas conclusões preliminares até já foram divulgadas. Segundo o Scribd, romances de mistério precisam ser curtos, sob pena de os leitores pularem várias páginas. Esse problema já não afeta tanto as biografias, que costumam ser lidas até o fim com interesse, ao contrário dos frequentemente rejeitados livros sobre ioga. As leituras mais rápidas são os títulos eróticos, seguidos de romances em geral. Os livros religiosos tomam mais tempo.
 

Entrevista com Carlo Carrenho

Como enxerga o formato de leitura via streaming?
É um modelo de negócio que soa muito interessante. Tende a ser futuro, e não apenas no que se refere aos remunerados. É algo parecido com o que vão ser as bibliotecas do futuro. Hoje, se você é sócio de uma biblioteca de Nova York, pode acontecer de não conseguir pegar um e-book porque ele já está emprestado a outra pessoa. Apesar dos avanços, as instituições replicam o formato do livro impresso. Isso precisa mudar.
A mudança tende a acontecer em quanto tempo no Brasil?
O modelo remunerado é muito bem-vindo, mas vai demorar um tempinho. O mercado do livro digital no Brasil está uns quatro, cinco anos atrás em relação aos Estados Unidos. É uma mudança que causa ruptura. Há muito o que se considerar. Antigamente você pegava X por cento do valor do livro e passava para o autor. Mas quando se trabalha com licença, como faz?
E quanto ao monitoramento dos hábitos de leitura? É uma prática aceitável?
Sem dúvida, é cada vez mais importante que as editoras tenham informações sobre os leitores. A Amazon já faz isso. Consegue saber até quais páginas as pessoas leram do livro, quantas vezes ela abriu o e-book e até a localização dela, via conexão 3G. Sabem tudo isso, mas não divulgam as informações. É um pouco do que se chama de Big Data, dados em grande escala, que você pode aproveitar comercialmente.
 
SCRIBD
scribd.com
Compatível com várias plataformas (iOS, Android, Kindle, web), oferece o serviço de assinatura de acervo de livros digitais por US$ 8,99 por mês (R$ 23,15). Os e-books podem ser baixados para leitura offline. Funciona no Brasil, mas são poucos os títulos em português. Acervo é de 40 milhões, mas inclui documentos e pesquisas, entre outros.
OYSTER
oysterbooks.com
Não funciona no Brasil e é voltado apenas para sistema iOS, da Apple. São mais de 100 mil títulos disponíveis em inglês. O diferencial é a integração entre os usuários, semelhante a uma rede social. É possível dar e receber dicas de boas leituras, o que torna a experiência mais interessante. Custa US$ 9,95/mês (R$ 23,42).
EREATAH
ereatah.com
Disponível para iOS e Android, tem leitor digital próprio e permite download de dois a quatro livros por mês, a depender do plano de assinatura. O acervo tem 85 mil títulos. Entre os diferenciais, um algoritmo que calcula a preferência de leitura dos usuários e indica novos livros. Custa a partir de US$14,99 por mês (R$ 35,28).
NUVEM DE LIVROS
nuvemdelivros.com.br
Multiplataforma, o serviço brasileiro reúne os mais diversos gêneros de ficção e não-ficção, além de atlas, mapas, livros animados, notícias, dicionários, entrevistas com autores e aulas virtuais. São 150 editoras parceiras, acervo de 11,5 mil. A curadoria é do escritor Antônio Torres, recém-eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
 
Publicado originalmente por Felipe Torres no Diário de Pernambuco

Como foi sua experiência?

Receba nossos melhores conteúdos sobre lançamento.