Um futuro sem editores?

“Você ama sua editora?” Esse foi o título de recente pesquisa conduzida pela Writer’s Worshop, consultoria na área editorial que auxilia escritores de primeira viagem. Foram ouvidos 300 autores no Reino Unido. Quase 40% haviam publicado seis livros ou mais, e 26%, no mínimo, três, dados que medem a relevância dos entrevistados. Além disso, 70% tiveram uma obra editada no último ano. Portanto, são autores da mais recente safra e, pode-se concluir, bem informados sobre os rumos do mercado.
A pesquisa investigou o quanto os autores estavam satisfeitos com suas editoras nos mais variados aspectos: da escolha da capa ao pagamento, passando pela campanha de marketing e pelo feedback recebido. O único ponto de crítica foram as campanhas de lançamento: 33% dos escritores não foram consultados sobre elas, e 31% o foram, mas consideraram seu envolvimento marginal. Outros 16% disseram que foram ouvidos, mas apenas para constar. Somadas, as respostas que classificaram as editoras como boas ou excelentes revelaram um índice de 75% de satisfação.
À primeira vista, pode parecer que o mercado editorial vai bem, obrigado. Porém, na mesma enquete, foi perguntado aos autores se eles já tinham publicado livros de forma independente ou se consideravam a possibilidade de fazê-lo no futuro. Menos da metade (44%) nunca pensou na hipótese. Na outra ponta, surpreendentes 29% estão, no mínimo, considerando a autopublicação no futuro, e 27% já lançaram mão do recurso. Somando os dois grupos, é possível afirmar que 56% dos autores simpatizam com a ideia de tornarem-se independentes.

 
Respostas não apontam caminho

As respostas fazem sentido. Quatro escritores independentes estavam na lista de ebooks mais vendidos do “New York Times” no primeiro fim de semana de agosto. O mais bem cotado deles, Colleen Hoover, aparecia em oitavo lugar, com o romance “Slammed”, à frente de autores como James Patterson e Karin Slaughter. No passado, a autopublicação era uma aventura custosa: era preciso gastar com a impressão e torcer para ser bem exposto em livrarias. Com as plataformas de publicação digitais, o custo é mínimo: basta investir na revisão e na capa. Além disso, o autor pode publicar sua obra simultaneamente em vários países, distribuindo seus livros através da Amazon, da Apple e de sites de publicação independentes como o Smashwords. Nos EUA, o gênero ficção já está vendendo 70% nessas plataformas.
Então o futuro do mercado editorial está na autopublicação? A mesma pesquisa permite afirmar que é cedo para saber. Uma outra questão foi feita a respeito do tema, com diferente abordagem. As respostas revelam como os autores estão confusos sobre o assunto. Diante de outra forma de perguntar — “Se você ainda estiver escrevendo nos próximos cinco ou dez anos, acha que ainda terá uma editora tradicional?” — os resultados parecem contraditórios. “Sim, muito provavelmente” foi a resposta dada por 48%. Somente 13% declararam que não, e 37% disseram não saber.
Pode parecer sutileza, mas é diferente perguntar a um autor se ele considera trilhar um caminho independente do que questioná-lo se, no futuro, ele ainda estará ligado por contrato a uma editora. Um livro independente pode ser um projeto efêmero. Já a decisão de se dispensar uma editora tem que ser amadurecida. A chave para entender o nível de incertezas que ronda o mercado parece estar nos 37% que não sabem o que farão.
 
Fonte: Adriana Barsotti | O Globo Blogs
 
 

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